É comum a ideia de que
relacionamentos envolvem muitos sacrifícios e que o amor exige abrir mão de certas coisas e
fazer outras que não queremos. Embora isso de fato possa ser bom (e necessário)
às vezes, a ciência mostra que a coisa não deve ser sempre assim.
Imagine
a cena: você chega em casa depois de um dia de trabalho e vê que a pia está
cheia de louça. É o dia do seu namorado (a) lavar, mas ele (a) não fez isso.
Mas, como você sabe que ele (a) teve um dia muito cansativo, decide pegar a
esponja e fazer o pequeno sacrifício de lavar tudo. Fofo. Mas e se você também teve um dia cansativo e estressante?
Segundo
um estudo recente da Universidade do Arizona, publicado no Journal of
Social and Personal Relationships, é aí que está o problema. Sob a coordenação da
pesquisadora Casey Totenhagen, foram avaliados 164 casais, casados ou não, mas
que estavam juntos por períodos que variavam entre seis meses e 44 anos.
No
total, foram 328 pessoas que tiveram de responder a um questionário, todos os
dias durante uma semana, indicando os pequenos sacrifícios diários que
precisaram fazer por seus parceiros românticos em 12 categorias (que incluíam
coisas como o cuidado com os filhos e tarefas de casa),
bem como o número de aborrecimentos que tiveram e o
quanto foram afetados por eles. Então, cada participante
classificava, em uma escala de um a sete, o nível de comprometimento e satisfação com seu relacionamento amoroso e quão próximo se sentiu a seu parceiro naquele dia.
Resultado:
O estudo mostrou que os indivíduos que fizeram sacrifícios de fato diziam se sentir mais comprometidos com seus parceiros – mas só quando estavam em um dia bom. Quando eles eram feitos no fim de um dia muito estressante, isso não acontecia. Nestes casos, o ato, que deveria ser uma coisa legal e com o objetivo de melhorar a qualidade do relacionamento, virava só mais um fardo.
E
tem mais: a pessoa que está recebendo a boa ação também
não relatou se sentir mais comprometida – provavelmente porque ela não percebeu
o que foi feito. Então olha quanta desvantagem: quem faz fica
mais cansado e não deriva prazer nenhum disso, e ainda precisa lidar com a
frustração de o parceiro nem sequer notar o esforço.
Fica
a lição: “[Por mais apaixonado (a) que esteja,] você precisa ser consciente em
relação aos recursos [incluindo energia física e mental] que tem antes de fazer
esses sacrifícios no fim do dia”, diz Totenhagen.
Coisas
que afetam a qualidade do relacionamento:
No
que diz respeito à satisfação com o relacionamento e ao sentimento
de proximidade, fazer sacrifícios para o parceiro parece ter pouca
influência de uma forma ou de outra (ou seja, estando cansado ou não). O
que realmente fez diferença foram os problemas diários relatados por cada um. Nesse caso, os
aborrecimentos vividos por um dos parceiros afetaram significativamente a
ambos.
Essas
constatações, segundo Totenhagen, apoiam outros estudos já feitos, sugerindo
que as pessoas não costumam ser muito boas em
separar os diferentes aspectos de suas vidas – como trabalho e vida pessoal. “Se eu
tiver um dia terrível no trabalho, vou voltar para casa mal-humorada e,
provavelmente, não terei energia para interações positivas e de boa qualidade
com o meu parceiro”, disse.
Assim,
ela defende que os casais se esforcem em lidar com os
aborrecimentos diários juntos.
“Mesmo se eu tiver experiências estressantes que não envolvam o meu parceiro,
ele ainda poderá ser afetado – daí a importância de trabalharmos juntos para
superar esses problemas”, explica.
Fonte: superinteressante